Carlos Prado é um artista que nunca se preocupou em aparecer, sendo mais um solitário. Isolado mesmo, pois raramente muitos amigos ou mesmo parentes o vêem. Seu interesse pela pintura, maior pelo desenho, como se vê na presente exposição, é absolutamente pessoal.
Não levando em conta nenhuma das infinitas tendências que populam pelo globo, onde cada um está persuadido de que inventou uma, e sempre desconfiado de que não vai ficar na história, Carlos desenha para si, sem aspirar outra consolação que a de satisfazer-se consigo mesmo.
Não deseja de jeito, mas de um jeito repleto de idéias que se manifestam ora no límpido de um simples contorno, ora como numa animação de sinais, compondo figurações em que os pontos de partida e de conclusão são difíceis de entrever: hieróglifos que percorrem os mais diferentes e imprevisíveis itinerários, um tumulto de faixas que se ajustam em composições ricamente exuberantes de uma sensibilidade íntima, a ser calculada com a curiosidade que leva à descoberta.
Porque, em quase todas as planchas, o escondido, o misterioso do pensar está presente. Generosidade de argumentos plásticos, vivência excitada de vigor, um rabiscar em que se fundem centenas de linhas, o senso de interstício, o entrelaçar, quase a vontade de tudo inserir na página, um límpido amor para o desvelar e ao mesmo tempo a preocupação do zelo: os desenhos de Carlos constituem uma surpresa. Conseqüência de uma decisão que não tem outra finalidade a não ser a de agradar ao próprio autor sem adaptamentos às correntes de circulação aceitas. Nas páginas o que interessa é o ver considerada a vida e os fatos que envolvem, numa subespécie crítica, para fechá-los numa alusão a-realística implícita ao juízo, uma certa melancolia, um adeus ao mundo que se vai mudando. Aceitas as mudanças, porém, expressa a saudade por aquilo que vai embora. Donde um espírito de reflexão muito próprio de quem pensa em fazer saber uma posição, se não de negação, pelo menos de reserva.
P. M. Bardi