CARLOS PRADO
José Duarte de Aguiar & Ricardo Camargo

Exposição e Vendas nº 1
18 de dezembro de 1980 a 30 de janeiro de 1981


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A idéia desta loja nasceu da necessidade e das possibilidades complementares ao nosso trabalho de projetos e criação.

Paralelo a isso pensamos e queremos que este espaço esteja aberto a todas as manifestações de criatividade e inteligência, e que possa ser um concentro de idéias e interesses.

José Duarte de Aguiar

Em uma das minhas visitas ao Museu de Arte de São Paulo, parei intrigado diante da impressionante pintura da década de 30 intitulada Varredores.

Observava aquela atmosfera paulistana, fria e noturna, e me perguntava: O que foi feito deste grande artista?

Tempos depois visitei a exposição de Carlos Prado realizada no Museu de Arte Moderna em 1976 e, então, obtive a resposta, constatando que sua obra era mais séria do que inicialmente poderia imaginar.

E mais: o artista tinha fama de excêntrico, de difícil trato, uma personalidade eivada de arestas. Uma segunda surpresa: encontrei um ser humano apenas rebelado contra a superficialidade e que trilhava o áspero caminho de uma vida que apenas procurava ser ele mesmo, custasse o que fosse.

Carlos pagou um preço bem alto: anos de isolamento, dedicação a uma obra sem concessões, radical mesmo e personalíssima.

Nos últimos anos tenho tido o privilégio de conviver continuamente com o Carlos, o que me permitiu conhecer alguns segredos de sua irreverente e constante juventude.

Sua obra é o testemunho eloquente de alguém que tem sido, acima de tudo, contemporâneo de seu próprio tempo.

Ricardo Camargo

Carlos Prado é um artista que nunca se preocupou em aparecer, sendo mais um solitário. Isolado mesmo, pois raramente muitos amigos ou mesmo parentes o vêem. Seu interesse pela pintura, maior pelo desenho, como se vê na presente exposição, é absolutamente pessoal.

Não levando em conta nenhuma das infinitas tendências que populam pelo globo, onde cada um está persuadido de que inventou uma, e sempre desconfiado de que não vai ficar na história, Carlos desenha para si, sem aspirar outra consolação que a de satisfazer-se consigo mesmo.

Não deseja de jeito, mas de um jeito repleto de idéias que se manifestam ora no límpido de um simples contorno, ora como numa animação de sinais, compondo figurações em que os pontos de partida e de conclusão são difíceis de entrever: hieróglifos que percorrem os mais diferentes e imprevisíveis itinerários, um tumulto de faixas que se ajustam em composições ricamente exuberantes de uma sensibilidade íntima, a ser calculada com a curiosidade que leva à descoberta.

Porque, em quase todas as planchas, o escondido, o misterioso do pensar está presente. Generosidade de argumentos plásticos, vivência excitada de vigor, um rabiscar em que se fundem centenas de linhas, o senso de interstício, o entrelaçar, quase a vontade de tudo inserir na página, um límpido amor para o desvelar e ao mesmo tempo a preocupação do zelo: os desenhos de Carlos constituem uma surpresa. Conseqüência de uma decisão que não tem outra finalidade a não ser a de agradar ao próprio autor sem adaptamentos às correntes de circulação aceitas. Nas páginas o que interessa é o ver considerada a vida e os fatos que envolvem, numa subespécie crítica, para fechá-los numa alusão a-realística implícita ao juízo, uma certa melancolia, um adeus ao mundo que se vai mudando. Aceitas as mudanças, porém, expressa a saudade por aquilo que vai embora. Donde um espírito de reflexão muito próprio de quem pensa em fazer saber uma posição, se não de negação, pelo menos de reserva. 

P. M. Bardi

As vinte linhas que me foram concedidas para expôr minha maneira de encarar a arte de pintar, não seriam suficiente; e vinte mil linhas tampouco bastariam. É que não conheço outra maneira possível de se atender à encomenda que me foi feita se não a de pintar ou desenhar. Vou porém tentar expôr (muito sumariamente, por falta de espaço) uma crença, entre outras, que hoje é endossada universalmente, e diz respeito ao assunto "arte", mas que, a meu ver, é falsa e além disto, deletéria para as artes plásticas, assim também como para todas as demais artes:

É hoje crença universal (ou quase), que os Artistas (com A maiúsculo) passaram a se ter em conta de criaturas excepcionais e a serem tidos como tais por seus semelhantes, não artistas; conseqüentemente disto resultou, fatalmente, uma valorização considerável das obras de arte e um crescimento fantástico do mercado das mesmas. O conteúdo "artístico" dessas obras é tido porém como sendo um fenômeno transcendental, que seria da alçada apenas de "entendidos em arte", e os artistas, via de regra, nada "entendem de arte". Na verdade, portanto, a avaliação do "valor" das obras de arte (e do trabalho dos artistas) depende, em última instância, do julgamento dos "entendidos em arte". Os "entendidos em arte" estão porém raramente de acordo. Na realidade, portanto, o valor "artístico" das obras de arte depende, tal como seu valor mercantil, da maior ou menor publicidade que delas é feita. Em suma, tal como sucede no caso de refrigerantes, sorvetes, cuecas, etc.

Já ultrapassei, porém, os limites que me foram impostos, infelizmente...

Carlos Prado


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