Após o resgate das inovações e ousadias dos modernistas brasileiros e artistas dos anos 60, que resultou no sucesso da exposição Vanguarda Tropical e na mostra de pinturas de Wesley Duke Lee, a Ricardo Camargo Galeria apresenta agora 58 obras selecionadas do acervo de arte contemporânea do colecionador Bruno Musatti. Uma coleção iniciada em 1965 e que tomou forma através do olhar apurado de Musatti – um convidado especial de todas as feiras internacionais de arte – para o potencial criativo dos artistas nacionais e internacionais.
A atual exposição é um projeto proposto há três anos por este galerista junto ao colecionador, seu amigo de longa data, no sentido de apresentar para o mercado parte desse notável acervo de arte contemporânea. A mostra traz um conjunto de trabalhos em diferentes técnicas – pinturas, esculturas, colagens, desenhos, fotografi as e objetos – de artistas
que se valorizaram no mercado brasileiro e internacional pela força de sua trajetória.
Várias obras se destacam nesta coleção, que contém preciosidades dos anos 60 e 70 – como um óleo de Mira Schendel e obras de Antonio Dias, Cildo Meireles, Waltércio Caldas e Nelson Leirner –, mas tem um foco especial na arte das décadas de 80 e 90. É o caso de uma escultura inaugural de Tunga, São João Batista, em borracha e com iluminação ultravioleta, finalizada em 1980. Ou a mala de bronze e vidro, Para Goeldi, de Nuno Ramos. Um bebê em madeira feito com toda ternura por Edgard de Souza resplandece ao lado de um Véu, de Leda Catunda, em acrílica sobre tecido; e uma tela de Leonilson, com duas chamas.
O talento de Rivane Neuenschwander surge em Plástico e Formigas, enquanto Iole de Freitas está presente com uma sinuosa escultura de cobre e borracha. Uma inédita pintura em grande formato de Artur Barrio, realizada em 1982, se contrapõe à emblemática foto Mona Lisa, de Miguel do Rio Branco. O inusitado aparece em duas bicicletas, inteiramente cobertas com palha, do carioca Jarbas Lopes.
Além dos artistas brasileiros, a exposição também contém obras de representantes estrangeiros. O holandês Wim Delvoye comparece com delicada pintura em vitral, reproduzindo a mesma luz de Rembrandt, em duas raquetes de tênis. A peruana Sandra Gamarra, radicada em Madrid, exibe um grande óleo, Santos, de 2008. E o português Pedro Cabrita Reis S.Vito I, esmalte s/ vidro, madeira, ferro e plástico.
Recortes de uma Coleção é uma mostra que cresce ao ser vista por apresentar uma aposta no que se vê e que segue o precioso conselho que este galerista recebeu do professor Pietro Maria Bardi: o de sempre acreditar na obra, independente do currículo de quem a faz.
Ricardo Camargo
colaborou Roberto Comodo