RECORTES DE UMA COLEÇÃO
Bruno Musatti

Exposição e Vendas nº 36
26 de abril a 22 de maio de 2010


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Recortes de uma Coleção

Após o resgate das inovações e ousadias dos modernistas brasileiros e artistas dos anos 60, que resultou no sucesso da exposição Vanguarda Tropical e na mostra de pinturas de Wesley Duke Lee, a Ricardo Camargo Galeria apresenta agora 58 obras selecionadas do acervo de arte contemporânea do colecionador Bruno Musatti. Uma coleção iniciada em 1965 e que tomou forma através do olhar apurado de Musatti – um convidado especial de todas as feiras internacionais de arte – para o potencial criativo dos artistas nacionais e internacionais.

A atual exposição é um projeto proposto há três anos por este galerista junto ao colecionador, seu amigo de longa data, no sentido de apresentar para o mercado parte desse notável acervo de arte contemporânea. A mostra traz um conjunto de trabalhos em diferentes técnicas – pinturas, esculturas, colagens, desenhos, fotografi as e objetos – de artistas
que se valorizaram no mercado brasileiro e internacional pela força de sua trajetória.

Várias obras se destacam nesta coleção, que contém preciosidades dos anos 60 e 70 – como um óleo de Mira Schendel e obras de Antonio Dias, Cildo Meireles, Waltércio Caldas e Nelson Leirner –, mas tem um foco especial na arte das décadas de 80 e 90. É o caso de uma escultura inaugural de Tunga, São João Batista, em borracha e com iluminação ultravioleta, finalizada em 1980. Ou a mala de bronze e vidro, Para Goeldi, de Nuno Ramos. Um bebê em madeira feito com toda ternura por Edgard de Souza resplandece ao lado de um Véu, de Leda Catunda, em acrílica sobre tecido; e uma tela de Leonilson, com duas chamas.

O talento de Rivane Neuenschwander surge em Plástico e Formigas, enquanto Iole de Freitas está presente com uma sinuosa escultura de cobre e borracha. Uma inédita pintura em grande formato de Artur Barrio, realizada em 1982, se contrapõe à emblemática foto Mona Lisa, de Miguel do Rio Branco. O inusitado aparece em duas bicicletas, inteiramente cobertas com palha, do carioca Jarbas Lopes.

Além dos artistas brasileiros, a exposição também contém obras de representantes estrangeiros. O holandês Wim Delvoye comparece com delicada pintura em vitral, reproduzindo a mesma luz de Rembrandt, em duas raquetes de tênis. A peruana Sandra Gamarra, radicada em Madrid, exibe um grande óleo, Santos, de 2008. E o português Pedro Cabrita Reis S.Vito I, esmalte s/ vidro, madeira, ferro e plástico.

Recortes de uma Coleção é uma mostra que cresce ao ser vista por apresentar uma aposta no que se vê e que segue o precioso conselho que este galerista recebeu do professor Pietro Maria Bardi: o de sempre acreditar na obra, independente do currículo de quem a faz.

Ricardo Camargo
colaborou Roberto Comodo

Tudo começou no final dos anos 60 quando adquiri minha primeira obra de arte, um desenho do Joan Ponç, feito a bico de pena da série “Moli, Rosa, Rubi” de 1948. Ponç, juntamente com Cuixart e Tapies, foi o fundador do movimento surrealista “Dau al Set” e seu grande representante na Espanha.

Desde então, nesses quase 40 anos, muitas obras de arte foram adquiridas, vieram até mim como se buscassem um pouso, um espaço para ficar... Muitas se foram depois de algum tempo, faz parte do caminho natural das coisas, chegam, moram e partem com o tempo. Assim cumpro minha função de colecionador; adquiro obras de arte motivado pelo belo, o que me encanta os olhos, e me encanto com minhas próprias escolhas, pois acredito que se você não se diverte tomando suas próprias decisões, você não exerce realmente o papel de colecionador.

Aposto no novo, nos artistas emergentes e tenho verdadeira atração pelas obras em papel (o início do ato de criação), pelos objetos e pelas esculturas, sou fascinado pelo tridimensional!

Ao certo não sei se me classifico como um colecionador ou um dealer. Certa vez li uma entrevista do Charles Saatchi, famoso publicitário e colecionador inglês, que narrou bem essa problemática. Para ele não importa que título deve ser classificado, se colecionador ou dealer, afinal de contas o que importa no contexto e o que sobrevive é a arte. Assim faço como ele, compro arte que gosto, e de repente vendo para comprar mais arte!

Bruno Musatti


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