Por um período de quase cinco anos, que vão do final de 1980 até maio deste 1986, ocupamos e movimentamos nossos espaços da Bela Cintra, fazendo deles mais que uma loja, conseguindo transformá-los e identificá-los com dados precisos e característicos. Nossa proposta inicial e constante, foi sempre o compromisso com a qualidade. Lá mostramos o nosso design, nossos móveis, objetos, tecidos, aliando esse nosso criar à outros movimentos, ligados sempre ao criativo, ao novo, ao instigante.
Lançamos livros, revistas, aconteceram happenings, fizemos mostras e exposições. Fomos e continuamos a ser, desde aquele início, contrários às definições pré-concebidas, aos modismos inúteis e fáceis, ao fácil apelo dos sucessos imediatos e passageiros. Proibimo-nos de toda e qualquer proibição, principalmente o auto proibir, buscando não só o novo, mas principalmente o criativo, o bom, o intrigante. Nos obrigamos a não nos ater a princípios definidos, ao sequencial obrigatório. O importante foi sempre, voltamos a repetir, a qualidade de nossas propostas básicas, e temos certeza que conseguimos realizar coisas e situações de altíssimo nível.
Desde nossa primeira mostra, com Carlos Prado, um dos mais sensíveis e importantes artistas brasileiros, mostramos jovens artistas, arte contemporânea italiana, fotografia, artes gráficas, como a inesquecível mostra de Emile Chamie, trouxemos ao Brasil dois artistas da importância de Folon e Schiffano, este hoje, talvez o mais forte nome da pintura italiana. Voltamos ao passado, fizemos exposições de arte antiga, mostramos pinturas do 1500 ao 1900, tendo a inquestionável colaboração e orientação de um precioso amigo, o Prof. Pietro Maria Bardi, fizemos as primeiras mostras de desenhos de arquitetura vistas em um espaço comercial no Brasil, por duas vezes trouxemos Gráfica Contemporânea Italiana. Depois de muitos anos sem mostrar sua obra, fizemos uma de nossas mais importantes mostras, a de Maria Helena Chartuni. Buscamos o tudo, procurando não nos cercar de limites. E conseguimos.
Agora, um novo espaço na Rua Mello Alves. Mudamos o espaço físico, ampliamos o mental, procuramos muito mais. Os princípios que nos nortearam e orientaram nos nossos trabalhos, continuam e foram aplianos no seu básico. Neste novo espaço José Duarte de Aguiar, da Rua Mello Alves, uma coisa continua vital e definitiva, a qualidade.
Recomeçamos com Taro, é muito bom e significativo. Ele é um artista jovem de grande talento e pouquíssimo visto. Seu trabalho foge de todos os modismos correntes, não busca identificação ou ligação com os ismos fáceis e os apelos do momento. Nenhum pós ou pré, de todos os movimentos correntes de sucesso imediato, de qualidade inventiva e técnica, pode ser visto ou atribuída em Taro. Sua pintura, busca a difícil mistura do abstrato com o figurativo, onde as imagens são vistas muito mais com a emoção do que com o real. A elegância das cores, as manchas equilibradas, a qualidade e a importância dos vazios é absolutamente importante em Taro, que sabe o ofício do pintar, hoje algo quase esquecido e visto com olhos preconceituosos, pouco amado, por um certo mundo, habituado aos preconceitos da moda, aos modismos, as cópias e sequências de sucessos pré dimensionados. Taro é ao mesmo tempo jovem e velho.
Há em seu trabalho um inquestionável e profundo mundo oriental e ao mesmo tempo, uma intrigante interpenetração de Brasil, da paisagem nova, das cores fortes e vibrantes. Há em seu trabalho um inquestionável compromisso com a beleza, a elegância e a qualidade. Taro é artista, sabe ser pintor.
Acreditamos e temos a certeza neste nosso recomeço, da possibilidade do muito à fazer. Nossas disponibilidades são perceptíveis e queremos continuar a fazer crescer nosso trabalho já realizado. Sabemos que podemos e que nosso compromisso é instigante e intrigante. O desvincular de todo e qualquer preconceito.
José Duarte de Aguiar
Ricardo Camargo