Um aguardado e mais do que desejado encontro de dois expoentes do modernismo brasileiro, esta exposição reúne pela primeira vez as obras do pintor, aquarelista e escultor Antonio Gomide e do escultor Victor Brecheret. A mostra, inédita em vários sentidos - com raridades e peças únicas - comemora os dez anos solo da nossa Galeria. As afinidades e a amizade dos dois artistas são antigas. Eles se conheceram em Paris em 1924, quando Gomide, já considerado o primeiro pintor cubista brasileiro, se torna amigo de Brecheret, seu vizinho de ateliê.
No Brasil, desde 1934 Antonio Gomide e Victor Brecheret planejavam fazer uma exposição conjunta, um projeto sempre adiado e que nunca se concretizou. Múltiplo em suas diversas fases, Gomide só é reconhecido atualmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em contraponto, a obra de Brecheret há muito tempo é consagrada em todo País e no exterior. Num minucioso resgate de acervo, realizamos agora o desejo dos dois modernistas, de se encontrarem, enfim, numa mostra.
Dezenove obras de Gomide pertenceram a seleta coleção do Dr. Luis Arrobas Martins, indicada por Christina Paranhos do Rio Branco, a quem agradeço. Aficionado da arte brasileira, Arrobas Martins foi responsável, nos anos 70, pela escolha do valioso acervo adquirido pelo governo de Paulo Egydio Martins no Estado de São Paulo. Entre os destaques da exposição estão o excepcional óleo Caçador (1928); um belíssimo afresco (1939) e a escultura em madeira Figura com colar de Guiné, que pertenceu a Pietro Maria Bardi, nosso mirante das artes.
Com exceção de uma única escultura, todas as obras de Brecheret são inéditas. A maioria é proveniente do acervo de Victor Brecheret Filho. Únicas, elas só foram exibidas em museus. Entre as raridades, desponta o bronze feito pelo escultor em vida, Bailarina (c.1925), que pertenceu ao senador e mecenas Freitas Valle. Nos mármores brilham o delicado Retrato de menina (1937) e Cabeça de anjo (1945). Nas terracotas, se impõem um brasileiríssimo São Francisco com boizinho (1953) e o telúrico Drama marajoara (1955). No lote de Brecheret reluz ainda - enigmática - a pedra Luta da onça com o tamanduá (1947/48), peça única na sua originalidade feita de incisões.
Esta exposição realiza o antigo sonho de dois artistas ímpares da arte brasileira, e que hoje se tornou mais marcante diante da escassez de obras modernistas oferecida ao mercado.
Ricardo Camargo